No dia 18 de julho de 1892, nascia na esquina das ruas Vitória e Triunfo, no Centro de São Paulo, uma das primeiras grandes estrelas da história do futebol brasileiro: Arthur Friedenreich.
Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra, fez da coincidência dos nomes das ruas de onde morava o próprio destino no mundo da bola. Enfrentou, porém, o preconceito.
Em uma geração na qual os negros não tinham vez no futebol, teve de contar com a ajuda de um tio alemão para começar a atuar no Germânia, um dos principais clubes da época, em 1909.
Com uma rapidez incomparável e um chute potente, logo passou a se destacar como um dos atacantes mais perigosos do futebol paulista. O preconceito deu lugar à cobiça dos grandes clubes.
Fried ainda vestiu a camisa do Ypiranga e passou a defender o Mackenzie College, onde conciliou o esporte com um curso de engenharia. Os títulos, porém, vieram pelo Paulistano.
O atacante foi campeão paulista em 1918, 1919, 1921, 1926, 1927 e 1929, além da Taça Ioduran em 1920. Ele ainda voltou a levantar a troféu paulista em 1931, mas já no São Paulo.
Foi artilheiro do Campeonato Paulista em 1912, 1914, 1917, 1918, 1919, 1921, 1927, 1928 e 1929. Não se sabe ao certo quantos gols marcou na carreira, mas alguns levantamentos apontam para 556 anotados em um total de 561 jogos disputados.
Não demorou para que ganhasse uma oportunidade na seleção brasileira. Em 1914, venceu a Copa Roca, torneio disputado entre Brasil e Argentina, em razão das relações diplomáticas dos países.
Foi campeão do Sul-Americano de 1919, que décadas depois se tornou a conhecida Copa América. Os uruguaios deram a ele o apelido de “El Tigre”, pela pele morena e olhos verdes.
Em 1925, participou de uma excursão do Paulistano à Europa voltando com nove vitórias em 10 jogos disputados. Os jogadores foram apelidados de “Reis do Futebol” pela imprensa local.
Fried ainda defendeu Americano (SP), Paulista, Atlas, Paysandu (SP), Flamengo (RJ), Internacional (SP), Atlético Santista (SP), Santos e Atlético-MG. Um marco, porém, veio em 1932.
O atacante decidiu deixar as chuteiras de lado e se alistar para integrar as tropas paulistas na Revolução Constitucionalista. Para isso, doou grande parte dos bens para os militares do estado.
O jogador pegou em armas e foi para as trincheiras. São Paulo era contrário ao governo de Getúlio Vargas, considerando o presidente golpista e reivindicando uma nova Constituição.
As tropas paulistas perderam a batalha, travada entre julho e outubro, mas uma nova Constituição foi aprovada em 1934. Fried faleceu no dia 6 de setembro de 1969.