Um estudante de Medicina de Ribeirão Preto (SP) que se destacou no futebol e que gostava de política

* Colaborou Leandro Paulo Bernardo

Eloy Esteves nasceu na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em 1907. Desde cedo, dividia o tempo entre os estudos e o futebol. O pai era funcionário do setor de limpeza urbana da prefeitura. Quando jogava nos juvenis do Comercial, foi aprovado no vestibular de Medicina. Contudo, a faculdade era no Rio de Janeiro e a única chance de conseguir moradia na então capital do Brasil seria conciliar a faculdade com o futebol.

Foto: arquivo pessoal

Foi então que, no início de 1928, Eloy se transferiu do Comercial para o Flamengo, após sondagens da direção rubro-negra no interior paulista. Seria o novo camisa oito do rubro-negro da Gávea. Para incrementar a renda da família e custear as despesas do filho no Rio, a mãe de Eloy colhia as mangas das árvores no quintal e vendia na janela. A partir dessa transferência para o Flamengo, o pai de Eloy toda vez que andava pelas ruas de Ribeirão Preto ouvia os comentários:

“Olha aí o lixeiro que tem um filho jogador e estudante de medicina no Rio de Janeiro”

Da esquerda para a direita, o sexto em pé | Foto: arquivo pessoal

O Flamengo era a o atual campeão carioca e tinha seis conquistas. Contava com Flávio Costa – futuro técnico – e Moderado – primeiro rubro-negro a marcar gols em Copa do Mundo. Durante os quatro anos em que Eloy esteve na Gávea, o máximo que alcançou foi o vice estadual no campeonato de pontos corridos de 1932, quando após 22 rodadas o Botafogo levou o título. Aquele foi o último estadual da era amadora.

Crédito: arquivo pessoal

Se antes a dúvida era estudar ou jogar futebol, agora pairava sobre ele a questão de ser profissional ou seguir como amador. Enquanto isso, também continuava se destacando nos campeonatos acadêmicos de futebol. Foi em um desses campeonatos que conheceu Carvalho Leite, ídolo do Botafogo, que também estudava Medicina e havia disputado o Mundial de 1930. Carvalho o convenceu que no Botafogo daria tranquilamente para conciliar o futebol com a faculdade.

No início de 1933, Eloy Esteves se transferiu para o clube de General Severiano e atingiu o ápice da carreira, justamente quando houve – por divergências entre profissionalismo e amadorismo – a criação de dois campeonatos cariocas, um organizado pela AMEA, a Associação Metropolitana de Esportes Athletics, e outro pela LCF, a Liga Carioca de Futebol.

O curso de Medicina até que iria contribuir para disputar o Mundial de 1934, na Itália, como jogador e integrante do departamento médico, já que a Confederação Brasileira de Desportos não iria levar médicos e massagistas por contenção de despesas. Apesar da cogitação para ter o nome entre os convocados, Carvalho Leite foi o escolhido, fazendo o “departamento médico” ao lado do jornalista e médico Caribé da Rocha.

Em 1935, Eloy se formou em Medicina e arrumou o primeiro emprego no Ministério de Viação e Obras Públicas, dando plantões no antigo aeroporto do Galvão. Já não era mais titular do Botafogo – perderia a posição para Áttila – mas fez parte do elenco que fechou um ciclo de ouro do Glorioso: campeões estaduais indiscutíveis entre 1932 e 1935. Na Copa de 1934, dos 17 convocados, nove eram do Botafogo.

Encerrou a carreira de jogador em 1937, coincidentemente quando houve a reunificação das duas ligas cariocas existentes. Na década de 1940, chegou a organizar uma espécie de “Casa de Apoio” para estudantes vindos do interior de São Paulo: o Centro de Ribeirão Preto. Um local com jornais da região para leitura, no qual também se organizavam algumas festas, reuniões políticas e homenagens.

Diferente de Carvalho Leite, que foi treinador e médico no Botafogo por muitos anos, Eloy Esteves se afastou do futebol. Ficou conhecido por Dr. Esteves e faleceu no Rio de Janeiro em 1973, aos 66 anos.

* Leandro Paulo Bernardo – Cirurgião-Dentista, apaixonado por futebol, literatura e música desde os quatro anos, e com o coração dividido entre o Santa Cruz e a Portuguesa