Com carreira rubro-verde, goleiro Ewerton foi ídolo da raça e da técnica

* Colaborou Leandro Paulo Bernardo

“As melhores qualidades do goleiro do Estrela foram a coragem e o reflexo. Everton fez boas defesas, evitando que sua equipe sofresse mais gols. Não teve medo de se atirar aos pés dos atacantes e nada pôde fazer para evitar os três gols do Grêmio”

Com essa descrição, no dia 4 de setembro de 1978 o caderno de esportes do jornal Zero Hora descreveu um dos goleiros mais emblemáticos e corajosos do futebol: Everton Machado Joenisch.


Nascido em Cachoeira do Sul no dia 26 de dezembro de 1957, Everton se profissionalizou no pequeno Estrela Futebol Clube. Jogou a primeira divisão gaúcha entre 1976 e 1979, sendo praticamente a quarta opção do time para o estadual de 1978.

 

O titular era Haley, que quebrou o maxilar ao chocar-se com Lettieri num jogo contra o Cruzeiro de Porto Alegre. O reserva era Paulinho, que se lesionou torcendo o joelho em um treinamento. E o terceiro goleiro era Clóvis, que machucou a mão em uma queda no treino. Um inspetor de polícia chamado Roberto falou para a direção do clube que conhecia um jovem goleiro na várzea de Porto Alegre, que se destacava muito.

Everton fez um pequeno coletivo na sexta-feira e naquele domingo estreou pelo Estrela. O clube ficou em segundo lugar no grupo, abaixo apenas do Internacional, e não se classificou para a segunda fase. Disputou ainda o Gauchão de 1979, quando um conselheiro da Portuguesa, que morava no Rio Grande do Sul, assistiu a alguns jogos e o recomendou a Osvaldo Teixeira Duarte, então presidente da Portuguesa.

Logo na estreia, contra o Corinthians no Pacaembu, deu um chapéu em Sócrates e caiu nas graças da torcida. Assumiu a titularidade em 1981 e manteve uma grande amizade com os outros goleiros: Moacir e Serginho.

Participou de times guerreiros e valentes, todavia, sem títulos. Em 1983, a Portuguesa fez uma excursão à Coreia do Sul. Na volta, parou em Lisboa e jogou contra o Sporting. Depois, foi à ilha da Madeira para disputar o antigo Torneio Autonomia. Everton se destacou, mas naquele período qualquer negociação era impossível com os dirigentes da Lusa.

A grande chance de título para a Portuguesa veio no Brasileiro de 1984, quando Everton fez um excelente campeonato. Tanto que, antes da fase final, estava a frente de Roberto Costa, goleiro do Vasco, na votação da “Bola de Prata” da revista Placar. A Lusa caiu na quartas de final para o próprio Vasco e Roberto Costa ganhou nota dez na final, ultrapassando todos os concorrentes.

A Portuguesa e Everton vinham fortes para aquele Campeonato Paulista de 1984, mas em um jogo contra o Palmeiras o arqueiro sofreu uma seria contusão após chocar-se com o atacante Reinaldo Xavier. Everton teve que retirar o rim esquerdo e o baço, que foram esmagados no trauma. Após uma longa recuperação, ele voltou ao futebol. No entanto, perdeu a titularidade e a paciência com o presidente Osvaldo Teixeira Duarte.

No final de 1986, beirando os 30 anos, conseguiu o passe livre e assinou com o Noroeste, de Bauru. Jogou apenas o Campeonato Paulista e foi para Portugal defender o Marítimo, clube que havia iniciado um “namoro” em 1983 e que tentava sair da sina de subir para a elite e ser rebaixado na temporada seguinte.

Carlos Pereira e Manuel Oliveira, respectivos presidente e treinador do Marítimo, vieram para o Brasil em 1987 olhar alguns jogadores. No aeroporto, perguntaram para um carregador de malas, que estava vestindo uma camisa do Corinthians, onde teria um jogo à noite. O rapaz, apaixonado pelo alvinegro, disse que o único jogo interessante seria em Bauru: Corinthians e Noroeste. Os dirigentes foram para o interior, Everton fechou o gol e o Norusca venceu por 2 a 0.

Os dirigentes viram mais alguns jogos e levaram Everton para Portugal. Com contratado assinado, por pouco não conseguiu jogar pelo rubro-verde da Madeira. Havia uma regra nas competições organizadas pela federação portuguesa que proibia jogadores com alguma deficiência ou alteração corpórea. Everton passou por exames e assinou um termo de responsabilidade, isentando qualquer entidade ou dirigente.

Everton foi ídolo máximo nos 13 anos em que ficou no Marítimo, nove deles como goleiro e quatro como preparador de goleiros. Por duas vezes seguidas, o clube chegou na quinta colocação e disputou pela primeira vez competições europeias. Logo após a primeira temporada, chegou até a ser cogitado no Futebol Clube do Porto, mas preferiu continuar na ilha da Madeira.

Viveu o auge na temporada 1994-1995, os Leões da Madeira jogaram a Copa da UEFA, passaram pelos suíços do Aarau e por pouco não eliminaram a Juventus em Turim.

Na Taça de Portugal, chegaram à final após eliminar o Porto nas semifinais, que era treinado por Bobby Robson e que tinha recentemente sido campeão nacional. Já com 37 anos, Everton defendeu tudo e mais alguma coisa. No dia seguinte, o jornal A Bola escrevia:

“Não faltou campeão; sobrou Everton.”

O goleiro disse em uma entrevista que a filha havia nascido no dia daquela semifinal. Por isso, a motivação estava ainda mais em alta. O Maritimo, treinado pelo brasileiro Paulo Autuori, fez a final contra o Sporting no estádio Jamor no dia 10 de Junho e Everton foi um dos protagonistas.

O Sporting venceu por 2 a 0 e voltou a ganhar um troféu após 13 anos. Mesmo com a derrota, Everton foi apontado como o melhor jogador da final e craque daquela Taça de Portugal. O Diário de Notícias, da Madeira, escolheu o seguinte título para sua capa do dia 11 de junho:

“Sporting 2-0 Everton”

O arqueiro chegou a ser cogitado pelo Sporting, porém, preferiu continuar no Marítimo. Encerrou a carreira em 1997. Retornou ao Brasil e chegou a trabalhar no Juventude e no Caxias. Atualmente, trabalha com peças automotivas. Nas horas vagas, é o goleiro do Tiro e Caça, time master de Lajeado.

* Leandro Paulo Bernardo – Cirurgião-Dentista, apaixonado por futebol, literatura e música desde os quatro anos, e com o coração dividido entre o Santa Cruz e a Portuguesa