* Por Leandro Paulo Bernardo
Sempre achei que a minha maneira de ver o futebol não seria a mesma de muitas pessoas, justamente porque alguns heróis da bola não tiveram a fama proporcional aos ídolos midiáticos e tradicionais que muitos exaltam.
Contudo sigo homenageando, exaltando e escrevendo aqueles que marcaram minha vida. Hoje um desses heróis, um verdadeiro popstar da bola chega aos cinquenta anos; Iedo Morgado, o Mick Jagger do Nordeste.
Iedo nasceu em Queimadas, interior da Bahia, foi revelado no Vitória e desde o juvenil era a grande aposta para o futuro do Leão. Ganhou sua primeira oportunidade no time profissional em 1988, quando já tinha um apelido peculiar entre os companheiros de time; Guitarrista.
Mesmo com o sucesso do Bahia no futebol nacional, aquele time do Vitória foi marcante no estadual, conquistou o bicampeonato baiano em 89 e 90 com um dos times mais marcantes para a torcida com Roberto Gaúcho, Missinho, Júnior Xavier, Borges, Hugo e André Carpes. Era realmente um time rock’n roll, já que também contava com o volante Lino cujo apelido na época de Palmeiras era Peter Frampton.
Em 1991 o atacante estava para deixar o Vitória. Tinha boas propostas do Botafogo e do São Paulo. Mas um acidente de carro atrapalhou sua carreira. A delegação do Vitória estava viajando para Riachão do Jacuípe, quando o ônibus que transportava os jogadores quebrou. Os atletas seguiram a viagem em táxis. O automóvel em que ele estava acabou batendo num caminhão.
Iedo ficou três meses imóvel em uma cama, havia quebrado a bacia, além de ter sofrido uma forte pancada no crãnio e uma luxação na clavícula. Naquele momento muitos duvidaram que ele pudesse voltar a jogar futebol. Sem chances no Vitória, o seu retorno para o futebol foi apenas no final de 1992 jogando o campeonato baiano pelo Camaçari, quando o Guarajuba disputou pela primeira vez o estadual na divisão principal. Iedo fazia dupla de ataque com outra lenda e popstar do futebol nacional; Beijoca, que encerrou a carreira no final daquele ano.
Em 1993 se transferiu para o Confiança. Era o recomeço num grande clube de massa. Todavia os anos 90 foram duros para a torcida proletária, o rival Sergipe comandou a decada. Naqueles dois anos no time azulino marcou 31 gols, não conquistou títulos, mas foi um verdadeiro Herói da Resistência.
As contusões atrapalharam sua carreira, em 1997 passou pelo Ferroviário, na primeira das suas três passagens pelo Ferrão. Em 2000 jogou o Campeonato Alagoano e a Copa do Nordeste pelo modesto Miguelense. Ali foi o passaporte para o segundo renascimento do Mick Jagger, ele se destacou rápido e sua passagem pelo periquito foi curta.
Foto arquivo Lauthenay Perdigão
No mesmo ano Iedo foi para o Treze, imediatamente se tornou um xodó da torcida após conquistar o Campeonato Paraibano e encerrar um jejum de onze anos do time de Campina Grande.
No Galo da Borborema Iedo não ficaria conhecido por Mick Jagger do Nordeste, lá ele sempre é lembrado como ” O Rei das Bicicletas” pelas inúmeras vezes que marcou gols de bicicleta pelo clube.
No ano seguinte Iedo partiu para o maior desafio da sua carreira; jogar no Corinthians de Caicó. Ele já havia brilhado na Bahia, Sergipe, Alagoas e Paraíba. Agora seria o momento de marcar historia no futebol do Rio Grande do Norte. Jamais uma equipe do interior havia conquistado um titulo e naquele ano a direção do clube fez um alto investimento financeiro para quebrar esse jejum. Iedo comandou o Galo do Seridó no título inédito.
O atacante ainda passou pelo Campinense e mais duas vezes pelo Ferroviário, onde encerrou a carreira em 2007. Começou a trabalhar como auxiliar técnico e treinador de equipes femininas. A volta em destaque ao futebol nordestino aconteceu a partir de 2013 quando iniciou um trabalho marcante como treinador do Estanciano. Tirou o clube da lanterna e terminou o campeonato na quarta colocação.
Em 2015 quase levou o Canarinho do Piauitinga ao titulo estadual. Perdeu o primeiro turno, ganhou o segundo e infelizmente perdeu a decisão para o Confiança. O Estanciano após 32 anos foi vice campeão estadual, entretanto pela primeira vez o clube iria disputa de competições nacionais; Série D, Copa do Brasil e Copa do Nordeste.
Foi justamente nessa série D que pude vê-lo de perto. Sempre digo que o jogo entre Central e Estanciano foi um dos mais inesquecíveis em minha vida, era a primeira vez que levará minha filha a um estádio.
A caravana de torcedores do Estanciano foi linda e quando a delegação do clube desceu do ônibus olhei para Iedo e disse-lhe com uma voz baixa; “Obrigado”. Ele leu meus lábios e acenou para mim. Minha filha perguntou quem era aquele homem cabeludo que eu tinha tido obrigado. Respondi para ela; ” Filha, aquele é herói”.
Após uma campanha inesquecível o Estanciano não conseguiu o acesso, caiu após dois jogos épicos contra o River. Em 2016 Iedo estava acompanhando um partida de futebol amador em Estância quando sofreu um acidente vascular cerebral. Sem clube naquele momento, iria iniciar um trabalho social para afastar crianças das drogas através futebol.
Iedo teve que se afastar do futebol e mais uma vez renasceu, torço pela recuperação plena dele e não ficarei surpreso se ele conseguir voltar ao futebol, vou é ficar imensamente feliz.
Ainda não vi John Lennon… Eu vi Iedo, eu vi o Mick Jagger pedalando os sonhos de várias torcidas em épocas difíceis numa estrutura difícil de imaginar… mas aí já seria uma outra História com outro herói principal.