Agustina Barroso – A referente do Futebol Argentino

O futebol feminino, tem a cada dia possibilitado a evolução de atletas e de clubes de todo o Brasil. E esta citada evolução tem se estendido, para o âmbito continental. A Vitrine Do Futebol Feminino conversou com Agustina Barroso, atleta da seleção argentina e uma das mais bem sucedidas atletas sulamericanas que já atuaram no futebol feminino brasileiro.

Atualmente defendendo as cores da Sociedade Esportiva Palmeiras, ela nos fala sobre sua trajetória na modalidade, desde o início, até o momento vivido atuando no alviverde, onde chegou em 2020 para triunfar.

Confiram a entrevista feita por Edson de Lima:

AVFF: Agus, você que é de um país tão importante no contexto do futebol mundial, teve facilidade em se apaixonar pela bola e consequentemente pelo futebol?

AGUS: Meus pais são professores de educação física. Nunca faltou uma bola em casa, seja de futebol, de papel ou de meia, qualquer coisa era bom pra chutar no gol.
E claro, consegui me apaixonar pelo futebol num país onde se respira futebol.

AVFF: Houve apoio em sua casa e em sua família para que você pudesse começar a jogar?

AGUS: Sempre, meus pais, assim como meus irmãos são a base da minha carreira, da minha vida.

AVFF: E com que idade você sentiu que era isso que iria fazer ou seja que iria ser jogadora?

AGUS: Sempre fui muito exigente comigo mesma, de fato na escola eu competia contra os meninos e me desafiava com eles. Mas aos 15 anos eu senti que podia ser uma profissional. Não tudo aconteceu de um momento pro outro, porque teve momentos que duvidei que poderia acontecer, mas tudo me levou aonde eu queria.

AVFF: Como é a realidade de uma atleta de futebol feminino na Argentina?

AGUS: Hoje melhorou. A profissionalização fez que hoje as atletas tenham um salário, cobertura médica e consigam se dedicar ao futebol. Mas não é pra todo mundo, já que ainda tem meninas que precisam trabalhar pra se sustentar. Os clubes aos poucos estão
entendendo das necessidades das atletas.

AVFF: Você teve o privilégio de iniciar a carreira de futebolista em dos mais estruturados clubes da Argentina, nos conte um pouco sobre o UAI Urquiza?

AGUS: UAI Urquiza me deu a possibilidade de jogar e estudar. Fiz até o 4 ano de fisioterapia e escolhi sair do país pra jogar. Ainda gostaria de terminar a faculdade mas tenho fé que isso vai acontecer. UAI Urquiza é um dos times mais estruturados, tem muita história no feminino. Eles te dão a possibilidade de estudar ou trabalhar, moradia, almoço na faculdade e tem o salário.

AVFF: Como e quando foi a primeira vez que você defendeu a Seleção Argentina e qual foi o sentimento?

AGUS: Foi aos 16 anos, no sul-americano sub 17. Lembro que quando vi a camiseta com meu sobrenome comecei a chorar, veio na minha cabeça a luta da minha família por muitos anos. Senti que estava agradecendo meus pais dessa maneira.

AVFF: Em que momento você sentiu que precisava VOAR MAIS e deixar a Argentina para evoluir como jogadora?

AGUS: Foi depois da Libertadores de 2015. Fazia tempo que eu estava com vontade de sair e com essa ideia na cabeça. Depois dessa Copa, a Ferroviária me contratou. Foi uma grande escolha e fico feliz em ter conseguido dar esse passo.

AVFF: Porque o futebol do Brasil foi o seu destino e qual é balanço que você de suas passagens pela Ferroviária, pelo Audax e Corinthians?

AGUS: Tenho um amor um pouco especial pelo Brasil. No momento que chegou a proposta da Ferroviária, não duvidei, queria sair e sabia que era o momento. Em cada clube e cada etapa evoluiu, cresci e aprendi muito como atleta e comopessoa. Sou muito agradecida aos clubes que me deram a possibilidade de jogar e me formar.

AVFF: Nos conte um pouco sobre as suas experiências no futebol europeu, na Inglaterra e na Espanha.

AGUS: Duas grandes experiências, em países onde o futebol está muito evoluído. Na Inglaterra tive que me adaptar no físico, já que é um jogo muito rápido e físico, na Espanha super técnico onde tive que me adaptar a dar passes com um ou dois toques e logo implementar isso no jogo.

AVFF: Jogar um Mundial, é o sonho de qualquer atleta, principalmente no futebol. Conte sua experiência na FRANÇA 2019 e qual foi o seu sentimento.

AGUS: Foi um sentimento de conquista, de felicidade e de superação. Foi uma Copa marcante para o futebol da Argentina. Depois da Copa entendi que se quero mais, preciso de mais!

Hoje entendo que atleta é corpo e mente, e falo hoje porque tal vez em outro momento não entendi a importância disso.

AVFF: O retorno para o futebol da Argentina foi estratégico, necessário ou apenas uma opção?

AGUS: Foi estratégico e necessário. Fazia muito tempo que estava longe de casa e
precisava ficar um pouco perto da família. Minha avó tinha falecido quando eu estava na Espanha e senti muito essa perda. Meu irmão estava por ser casar, então tudo fez que precisei voltar um pouco.

AVFF: Como é estar de novo no futebol feminino brasileiro e defender uma camisa tão importante como da S.E.Palmeiras e qual sua avaliação da temporada 2020 até aqui?

AGUS: Estou muito feliz de voltar pro Brasil, como falei antes, tenho um amor um pouco especial e também sabendo que o futebol aqui no Brasil evoluiu muito nesses últimos tempos. O Palmeiras é um grande clube onde tem um projeto novo e muito bom. É um honra, um prazer e uma grande responsabilidade defender essa camisa.

O ano tem sido muito positivo, sendo que é um ano difícil. O Palmeiras tem um grande time e desejo que possamos conquistar muitos títulos.

Foto: Van Campos

AVFF: Por suas experiências em clubes do Brasil, qual é a sua mensagem para as atletas, não só da Argentina, mas de países da América Latina que por ventura queiram vir para o nosso país. O que elas precisam saber e fazer para triunfar por aqui?

AGUS: O futebol no Brasil é muito forte, não é casualidade que seja umas das potências no mundo. Aqui se trabalha e muito, se disputam dois campeonatos muito fortes que exigem estejamos bem preparadas, tanto na parte física como mental. O futebol no Brasil, abre portas
para o mundo.

Na atual temporada 2020, Agustina atuou em 18 partidas, marcou 1 gol e esteve por 1478 minutos em campo pelo Palmeiras.

Edson de Lima com Agustina Barroso

* Edson de Lima é o idealizador de A Vitrine Do Futebol Feminino, espaço de divulgação da modalidade, sua história e seus personagens e escreve semanalmente aqui no Acervo da Bola, onde é parceiro com a realização dos curta-metragens EU, JOGADORA / NUNES FC & EU SOU DO NORTE