* Colaborou Leandro Paulo Bernardo
Final dos anos 80, o rock chegava com muita força em minha cidade Quipapá, a geração do meu irmão mais velho curtia a vertente mais extrema e eu continuava fiel ao bom pop rock. Uma das bandas que mais curtia era o Capital Inicial, especialmente por uma música; Independência. Nessa época (e até hoje) adorava descobrir novas equipes, e o futebol do Acre era um paraíso para mim. Lá tinha Adesg, Vasco, Juventus e em especial o Independência Futebol Clube. Graças aquela música passei a ter um carinho pelo tricolor de aço, apesar da distância que existia entre nós.
“Toda essa curiosidade que você tem pelo que eu faço
Eu não gosto de me explicar, eu não gosto de me explicar
Toda essa intensidade, buscamos identidade
Mas não sabemos explicar, mas não sabemos explica”
O Independência foi fundado em 02 de Agosto de 1946 no bairro Aviário por um grupo de empresários de Rio Branco, inicialmente chamado de Ypiranga Futebol Clube. Todavia como já existia na cidade uma antiga agremiação chamada Ypiranga, a diretoria resolveu mudar o nome do clube. Sem nenhuma explicação lógica, apenas homenagem, e foram copiados o escudo e as cores do Fluminense do Rio de Janeiro.
O clube cresceu muito rápido e foi conquistando simpatizantes, conseguiu o vice-campeonato em 1950 e 1951. Em 1954 se tornou campeão estadual pela primeira vez em cima do Rio Branco, foi justamente naquela década que o tricolor se firmou como grande rival do Rio Branco, fazendo todas as finais entre 1954 e 1960. O Independência venceu em 1958 e 1959, inclusive em 1958 estabeleceu a maior goleada da historia no futebol do Acre, 20 a 0 no Botafogo.
“Toda essa meia verdade, o que temos nos conformado
Só conseguimos nos afastar, nós aprendemos a aceitar”
O futebol no Acre era considerado amador, apesar da boa competividade. O Independência conquistou o campeonato de 1963 e passou sete anos de jejum. Recuperou o titulo em 1970 quando ultrapassou o Atlético Acreano em conquistas e se estabeleceu como segunda força no estado.
Aquele campeonato foi muito polêmico, pois muitos adversários do Independência alegavam que o treinador tricolor, Alicio Santos (o mítico treinador do Cachimbo) dava “bolinhas” aos seus atletas.
O Independência foi campeão em 1972 e 1974, mas na década de setenta ganharia outro forte rival, o Juventus que o ultrapassou em conquistas.
O tricolor de aço fechou aquela era profissional conseguindo empatar com o Juventus, ao vencer os estaduais de 1985 (vencendo o time grená após perder três decisões para eles) e 1988 (último campeonato da fase amadora).
“Tantas coisas pela metade, como essa imensa vontade
Que não sabemos explicar, que não sabemos assear”
Os dois primeiros campeonatos profissionais no Acre foram vencidos pelo Juventus do centroavante Ivo, o Atlético conquistou um e o Rio Branco o outro. Em 1991 a Raposa jogaria sua primeira competição nacional, ficou na última posição na segunda divisão. Em 1993 o Independência jogou o estadual com muita diferença financeira em relação ao gigante Rio Branco, contudo foi ganhando força ao longo da competição.
O tricolor jogou boa parte do campeonato sem treinador nas partidas, já que o técnico Aníbal Honoratto foi suspenso pelo TJD por agredir um árbitro.
No início do segundo turno fez sua única aquisição grandiosa, o atacante Ivo que prometeu logo que seria artilheiro e campeão… E cumpriu a promessa. O Independência foi campeão, perdeu só uma partida em 14 jogos (para o Adesg), venceu o Andirá por 11 a 1 e Ivo foi o artilheiro com seis gols.
Com o título a Raposa jogou a sua primeira Copa do Brasil (foi eliminado pelo Ariquemes de Rondônia na primeira fase), também esteve presente também na gigante série C de 1995, quando foi eliminado na segunda fase pelo rival Rio Branco. Aquela foi a última década de apogeu do tricolor, quando foi para as finais estaduais de 1997 a 2000. Consegui ser campeão apenas em 1998, mas em 1997 venceu o Atlético por 9 a 0 e teve o artilheiro de 1999, o atacante Pitíu com oito gols.
“Se paro e me pergunto, será que existe alguma razão
Pra viver assim se não estamos de verdade juntos”.
Jogaria ainda a Copa do Brasil de 2000 (eliminou o Baré de Roraima e caiu na segunda fase para o São Raimundo de Manaus) e a série C de 2005 (foi eliminado pelo Vila Aurora do Mato Grosso).
Em 2008 o atacante Marcelo Cabeção foi um dos artilheiros do campeonato com oito gols. Ao passar dos anos o clube não conquistou títulos e entrou numa grave crise financeira. Em 2013 a direção do clube retirou a equipe do campeonato por falta de recursos e acabou rebaixado pela primeira vez na história. Jogou o campeonato de 2014, teve o artilheiro Zagalo, mas não conseguiu retornar para a elite com o vice-campeonato, em 2015 ficou em terceiro e desde então ficou afastado das competições profissionais.
“Procuramos independência
Acreditamos na distância entre nós”.
A primeira reunião de definição da segunda divisão do Campeonato Acreano de 2018 teve um anúncio muito esperado pela maioria dos apaixonados por futebol na capital acreana. O cartola José Eugênio Leão Braga, conhecido como Macapá, cravou que o Independência, time de maior torcida do Acre, afastado do futebol profissional há três temporadas e da primeira divisão há seis, estará de volta aos gramados.
Macapá, que é presidente de honra do Tricolor do Aviário, por muito tempo tem bancado as despesas do clube e até os salários dos jogadores. O clube que tem uma torcida apaixonada (dizem que por alguns anos foi a maior do estado) ainda é o terceiro maior vencedor no estado.
Quanto à musica, sigo ouvindo diversos gêneros, o Capital Inicial segue na estrada, porém só ouço o repertório da fase de 1987 até 1992, por coincidência a época que o gênio Bozzo Barretti estava na banda. Até disse a ele que a belíssima música “Pedra na Mão” daria um ótimo vídeo clipe com lances do jogador Felipe Melo…mas aí já seria uma outra trilha para uma outra história.
* Leandro Paulo Bernardo – Cirurgião-Dentista, apaixonado por futebol, literatura e música desde os quatro anos, e com o coração dividido entre o Santa Cruz e a Portuguesa.