O despertar do Sete e seu Gigante

* Por Leandro Paulo Bernardo

Escrevo crônicas para sites desde 2014, muitas vezes buscando fazer um trabalho de resgate ou valorização histórica de vários clubes em todo o planeta. Hoje finalmente chegou a vez de exaltar o clube da minha cidade natal: Sete de Setembro.

Nasci em Garanhuns, mas só dormi lá duas vezes; quando nasci e quando minha filha mais velha nasceu. Cresci em Quipapá, contudo a minha vida estudantil, laboral e divertida foi compartilhada com Garanhuns. Meu pai tinha uma lotação entre as duas cidades, automaticamente minha vida ficou dividida entre as duas cidades e a primeira coisa que chamava nossa atenção ao chegar na belíssima Suíça Pernambucana era a imponência do Gigante do Agreste.

Justamente o estádio do Sete talvez seja o marco para a resistência do clube nesses seus setenta anos. Vencedor de vários campeonatos da liga local, conseguiu o hexa-campeonato citadino em 1967 criando assim uma forte rivalidade com o IAC, Indiano e especialmente com a AGA, sendo esse duelo entre Lavandeira e Lobo a maior evidência dos contrastes sociais e econômicos no futebol das Sete Colinas. A AGA representava a elite de Garanhuns, com sua rica sede ao lado do Relógio das Flores (maior ponto turístico da cidade) e todo o apoio politico. O Sete representava a periferia da cidade e com apoio popular, além de doações dos políticos opositores ao representantes executivos da época, conseguiu comprar um grande terreno na entrada da cidade em 1971 por preço muito abaixo do valor de mercado.

Fonte Diário de Pernambuco

Durante a década de setenta, AGA e Sete travaram grandes duelos nos campeonatos locais, até que em 1981 a federação pernambucana sinalizou a intenção de abrir vagas para novas equipes, uma de Garanhuns e outra de Paulista, para junto das equipes de Caruaru (Central e Atlético) e do Comercial de Serra Talhada, tentar tornar o campeonato além das fronteiras do Recife. Imediatamente o prefeito de Garanhuns demonstrou interesse em escrever a AGA, mas o Sete era disparado a melhor equipe da cidade.

Blog Anchieta Gueiros

Naquele período o Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) abriu uma linha de crédito para reforma e ampliação de alguns estádios no estado. Foi assim que Severino Albino, presidente do Sete, fez toda a mobilização para que o clube conseguisse o empréstimo e tivesse respaldo para jogar o campeonato estadual de 1982. Depois de uma batalha interna com a liga local, o Sete acabou sendo o escolhido para representar a cidade no campeonato estadual da primeira divisão. No inicio a trégua foi feita em virtude também das eleições municipais. O projeto inicial para o Gigante do Agreste era de 40 mil espectadores e o clube jogaria algumas partidas no estádio Gerson Emery da AGA.

Diário de Pernambuco

No dia 30 de maio o Sete fez sua estreia contra o Sport, perdeu por dois a zero, mas algo passou a chamar atenção da crônica esportiva pernambucana naquela primeira participação do lobo guará; a mobilização na região e a excelente presença de publico nos jogos em Garanhuns.

O Sete passou a demonstrar a sua essência ao longo da história, era muito mais que um clube de Garanhuns, era o clube do agreste meridional. Passou a ser o sonho maior dos jogadores da região, era a rota principal das caravanas e excursões organizadas pelos loteiros das cidades vizinhas, mesmo com a total falta de apoio do comercio e dos políticos de Garanhuns. As tabelas dos campeonatos pernambucanos nos anos 80 ultrapassavam o limite do ridículo, contudo havia uma vantagem para os pequenos; ausência de rebaixamento. Dessa maneira o Sete atravessou toda a década jogando na primeira divisão, arrecadando dinheiro e com quase oitenta por cento do elenco de jogadores da região.

Em 1988 o clube quitou sua divida com o banco, apesar do projeto final nunca foi concluído, mas o gigante tinha seu dono e sua marca. O formato do numeral sete na arquibancada mostrava sua magia para nos que chegávamos a terra da garoa. Em 1989, graças a ajuda do prefeito de Jupi, aconteceram algumas reformas na estrutura do gigante e evitou uma elevação no preço dos ingressos, algo que seria prejudicial aos seus torcedores.

Diário de Pernambuco

Como era difícil manter um estrutura profissional, vários jogadores do Sete eram cedidos aos clubes amadores do Agreste Meridional. Esse fato fez crescer ainda mais os laços de identidade do clube com a região. Tanto que o campeonato do Agreste só iniciava após a participação do Sete no Pernambucano. Assim pude presenciar o aparecimento do maior jogador da História alviverde, o Centroavante Quincas, que também desfilou seu talento pelo meu Santa Cruz de Quipapá.

Arquivo pessoal Quincas

Quincas era um craque, artilheiro… era o Van Basten do Agreste. Sua carreira foi resumida apenas na região porque ele preferiu seguir administrando o comércio da família na cidade. Quando o Sete foi rebaixado em 1994, imediatamente voltaria a elite em 1995 ao conquistar a segunda divisão no auge da carreira de Quincas.

Jornal A Gazeta

Infelizmente por falta de apoio e patrocínio o Sete de Setembro não jogou o estadual de 1996, pediu licença e só voltou a primeira divisão em 2007. Entre 2000 e 2004 ainda teve o gosto amargo de ver seu arquirrival voltar ao profissionalismo, jogar o pernambucano da primeira divisão e por pouco não disputar uma competição nacional (A AGA obteve vaga para a Série C de 2003, mas desistiu).

O Sete conseguiu retornar à primeira divisão em 2008. Beirou o rebaixamento naquele ano e em 2009, só escapando na última rodada. Até que foi rebaixado para segunda divisão em 2010 e onde se encontra atualmente. Por problemas administrativos chegou a se ausentar das competições estaduais. Nos últimos dois anos conseguiu apoio do prefeito de São João, ex atletas, comerciantes e dos verdadeiros apaixonados pelo futebol, possibilitando ao clube conseguir o acesso novamente a primeira divisão, bastando apenas vencer o Porto de Caruaru.

Nas minhas pesquisas ainda não consegui descobrir o ano que o estádio foi batizado de Marco Maciel ou o porquê do clube nunca ter ampliado a capacidade do Gigante.

Contudo nessa semana passou um filme alviverde por minhas recordações… Seja quando torcia para algum passageiro na Kombi do meu pai solicitar descer perto do Gigante, seja com meus sonhos juvenis de fazer uma peneira no Sete com Professor Zezé ou Mestre Laércio ou simplesmente quando ouvia as jornadas esportivas da extinta Rádio Meridional AM.

Hoje afirmo com toda convicção; O Sete é muito mais do que um clube de Garanhuns, é ponto maior da união entre todos esportistas do Agreste Meridional. Seja no passado com o Goleiro Angelim ou no presente com Anderson São João e Nego de Brejão. Independente de títulos ou fama, ele foi e sempre será um Gigante a ser carregado pelo amor dos seus torcedores.