Nesta terça-feira 19 de janeiro de 2021, no mítico estádio José Amalfitani (cancha do Vélez Sarsfield) teremos a grande final do TORNEO TRANSICIÓN 2020.
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O despertar do Sete e seu Gigante
* Por Leandro Paulo Bernardo
Escrevo crônicas para sites desde 2014, muitas vezes buscando fazer um trabalho de resgate ou valorização histórica de vários clubes em todo o planeta. Hoje finalmente chegou a vez de exaltar o clube da minha cidade natal: Sete de Setembro.
Nasci em Garanhuns, mas só dormi lá duas vezes; quando nasci e quando minha filha mais velha nasceu. Cresci em Quipapá, contudo a minha vida estudantil, laboral e divertida foi compartilhada com Garanhuns. Meu pai tinha uma lotação entre as duas cidades, automaticamente minha vida ficou dividida entre as duas cidades e a primeira coisa que chamava nossa atenção ao chegar na belíssima Suíça Pernambucana era a imponência do Gigante do Agreste.
Justamente o estádio do Sete talvez seja o marco para a resistência do clube nesses seus setenta anos. Vencedor de vários campeonatos da liga local, conseguiu o hexa-campeonato citadino em 1967 criando assim uma forte rivalidade com o IAC, Indiano e especialmente com a AGA, sendo esse duelo entre Lavandeira e Lobo a maior evidência dos contrastes sociais e econômicos no futebol das Sete Colinas. A AGA representava a elite de Garanhuns, com sua rica sede ao lado do Relógio das Flores (maior ponto turístico da cidade) e todo o apoio politico. O Sete representava a periferia da cidade e com apoio popular, além de doações dos políticos opositores ao representantes executivos da época, conseguiu comprar um grande terreno na entrada da cidade em 1971 por preço muito abaixo do valor de mercado.
Durante a década de setenta, AGA e Sete travaram grandes duelos nos campeonatos locais, até que em 1981 a federação pernambucana sinalizou a intenção de abrir vagas para novas equipes, uma de Garanhuns e outra de Paulista, para junto das equipes de Caruaru (Central e Atlético) e do Comercial de Serra Talhada, tentar tornar o campeonato além das fronteiras do Recife. Imediatamente o prefeito de Garanhuns demonstrou interesse em escrever a AGA, mas o Sete era disparado a melhor equipe da cidade.
Naquele período o Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) abriu uma linha de crédito para reforma e ampliação de alguns estádios no estado. Foi assim que Severino Albino, presidente do Sete, fez toda a mobilização para que o clube conseguisse o empréstimo e tivesse respaldo para jogar o campeonato estadual de 1982. Depois de uma batalha interna com a liga local, o Sete acabou sendo o escolhido para representar a cidade no campeonato estadual da primeira divisão. No inicio a trégua foi feita em virtude também das eleições municipais. O projeto inicial para o Gigante do Agreste era de 40 mil espectadores e o clube jogaria algumas partidas no estádio Gerson Emery da AGA.
No dia 30 de maio o Sete fez sua estreia contra o Sport, perdeu por dois a zero, mas algo passou a chamar atenção da crônica esportiva pernambucana naquela primeira participação do lobo guará; a mobilização na região e a excelente presença de publico nos jogos em Garanhuns.
O Sete passou a demonstrar a sua essência ao longo da história, era muito mais que um clube de Garanhuns, era o clube do agreste meridional. Passou a ser o sonho maior dos jogadores da região, era a rota principal das caravanas e excursões organizadas pelos loteiros das cidades vizinhas, mesmo com a total falta de apoio do comercio e dos políticos de Garanhuns. As tabelas dos campeonatos pernambucanos nos anos 80 ultrapassavam o limite do ridículo, contudo havia uma vantagem para os pequenos; ausência de rebaixamento. Dessa maneira o Sete atravessou toda a década jogando na primeira divisão, arrecadando dinheiro e com quase oitenta por cento do elenco de jogadores da região.
Em 1988 o clube quitou sua divida com o banco, apesar do projeto final nunca foi concluído, mas o gigante tinha seu dono e sua marca. O formato do numeral sete na arquibancada mostrava sua magia para nos que chegávamos a terra da garoa. Em 1989, graças a ajuda do prefeito de Jupi, aconteceram algumas reformas na estrutura do gigante e evitou uma elevação no preço dos ingressos, algo que seria prejudicial aos seus torcedores.
Como era difícil manter um estrutura profissional, vários jogadores do Sete eram cedidos aos clubes amadores do Agreste Meridional. Esse fato fez crescer ainda mais os laços de identidade do clube com a região. Tanto que o campeonato do Agreste só iniciava após a participação do Sete no Pernambucano. Assim pude presenciar o aparecimento do maior jogador da História alviverde, o Centroavante Quincas, que também desfilou seu talento pelo meu Santa Cruz de Quipapá.
Quincas era um craque, artilheiro… era o Van Basten do Agreste. Sua carreira foi resumida apenas na região porque ele preferiu seguir administrando o comércio da família na cidade. Quando o Sete foi rebaixado em 1994, imediatamente voltaria a elite em 1995 ao conquistar a segunda divisão no auge da carreira de Quincas.
Infelizmente por falta de apoio e patrocínio o Sete de Setembro não jogou o estadual de 1996, pediu licença e só voltou a primeira divisão em 2007. Entre 2000 e 2004 ainda teve o gosto amargo de ver seu arquirrival voltar ao profissionalismo, jogar o pernambucano da primeira divisão e por pouco não disputar uma competição nacional (A AGA obteve vaga para a Série C de 2003, mas desistiu).
O Sete conseguiu retornar à primeira divisão em 2008. Beirou o rebaixamento naquele ano e em 2009, só escapando na última rodada. Até que foi rebaixado para segunda divisão em 2010 e onde se encontra atualmente. Por problemas administrativos chegou a se ausentar das competições estaduais. Nos últimos dois anos conseguiu apoio do prefeito de São João, ex atletas, comerciantes e dos verdadeiros apaixonados pelo futebol, possibilitando ao clube conseguir o acesso novamente a primeira divisão, bastando apenas vencer o Porto de Caruaru.
Nas minhas pesquisas ainda não consegui descobrir o ano que o estádio foi batizado de Marco Maciel ou o porquê do clube nunca ter ampliado a capacidade do Gigante.
Contudo nessa semana passou um filme alviverde por minhas recordações… Seja quando torcia para algum passageiro na Kombi do meu pai solicitar descer perto do Gigante, seja com meus sonhos juvenis de fazer uma peneira no Sete com Professor Zezé ou Mestre Laércio ou simplesmente quando ouvia as jornadas esportivas da extinta Rádio Meridional AM.
Hoje afirmo com toda convicção; O Sete é muito mais do que um clube de Garanhuns, é ponto maior da união entre todos esportistas do Agreste Meridional. Seja no passado com o Goleiro Angelim ou no presente com Anderson São João e Nego de Brejão. Independente de títulos ou fama, ele foi e sempre será um Gigante a ser carregado pelo amor dos seus torcedores.
Itabaiana x Central
* Por Leandro Paulo Bernardo
Revanche, eis uma palavra marcante no futebol que mexe com a memória dos apaixonados pela bola. Em minha vida já pude acompanhar várias, mesmo sem ter visto o primeiro confronto. Não assisti a final da Copa do Mundo de 1950, mas vi Brasil e Uruguai no Maracanã decidindo a Copa América de 1989. Não presenciei a final da Copa do Mundo de 1966, mas acompanhei a Inglaterra perder para a Alemanha na Copa de 2010 com um erro de arbitragem.
Nesse final de semana acontecerá uma “revanche” que também não vi o primeiro duelo, mas com certeza vou acompanhar cada detalhe desse encontro entre duas bandeiras do futebol do interior nordestino; Itabaiana versus Central.
São muitas semelhanças desse confronto decisivo pela penúltima rodada da primeira fase da série D de 2020 com o duelo pela também penúltima rodada da primeira fase da Taça de Prata de 1983. Aquela Segunda Divisão dava acesso para a Taça de Ouro do mesmo ano, por isso era uma competição rápida em seis grupos com seis equipes e apenas cinco jogos na primeira fase.
A Olímpica de Itabaiana estava invicta com dois empates e uma vitória, enquanto o Central tinha duas derrotas e uma vitória. O Tremendão tinha quatro pontos e a Patativa no desespero tinha dois pontos.
As equipes viviam bastidores totalmente adversos para aquele duelo. O Itabaiana vinha de um pentacampeonato estadual e o clima na Serra era da absoluta paz, apesar dos problemas financeiros no clube. O Tricolor da Serra tinha a base montada anos antes pelo argentino Juan Celly, mas naquela Taça de Prata era treinado por José Carlos Fescina que havia deixado o Central meses antes e indicando a contratação de três jogadores da Patativa; João Correia, Lucinho e Guiga.
Enquanto isso o Central vivia um clima de guerra entre dirigentes, torcedores e o treinador Jálber Carvalho que durante os treinos para aquela partida ameaçou colocar o ídolo e craque Paulinho no banco, chegando até a divulgar para a imprensa sua preferência por Alex ou Jandir ao invés do velho ídolo.
A única diferença para a atualidade é que aparetemente o Central vivia seu apogeu de paz financeira, inclusive o clube iria entregar a reforma do então estádio Pedro Victor de Albuquerque e o presidente Luiz Lacerda (atual nome do estádio) desejava ver as grandes equipes do país jogando em Caruaru. A torcida sabendo desse momento importante do clube organizou até caravana para Aracaju, em pleno sábado de Carnaval, já que o jogo seria realizado no Batistão.
No dia do jogo Jálber escalou Paulinho como titular… e ele foi fundamental para a vitória da Patativa, organizando todo o meio de campo do alvinegro pernambucano. O Central marcou logo dois gols no primeiro tempo com Evilásio e Juarez O Tremendão foi para cima, mas a Patativa tinha o monstro Jorge Hipólito nas balizas para segurar os quase cinco atacantes adversários. O Itabaiana teve o desfalque do ídolo máximo Angioletti e o também artilheiro Florisvaldo estranhamente começou no banco de reservas. Evilásio marcou mais um para a Patativa que saiu vitoriosa daquele duelo.
Tudo deu certo para o Central naquela rodada, já que o Santa Cruz venceu o Campinense e disparou na ponta. Bastaria ao Central vencer o Alecrim (rival direto) na última rodada para garantir a vaga para a próxima fase junto com o tricolor do Arruda.
Já a tranquilidade do Itabaiana acabaria. O clube teria que vencer o Campinense fora de casa e torcer para um empate entre Central e Alecrim. Surgiu comentários, que até hoje é uma enorme lenda na Serra, sobre uma possível “facilitada” do treinador do tricolor para beneficiar seu ex-clube. Na última rodada contra o Campinense, Fescina não escalou os ex-jogadores do Central e voltou como titular o “gringo” Angioletti.
Um fato se aproximou da atual realidade alvinegra, na semana do duelo contra o Alecrim surgiu a noticia de que nove atletas do clube estavam com os salários atrasados e após uma reunião de Jálber Carvalho com o diretor de futebol Valdomiro Godoi numa quarta feira de cinzas tudo ficou acertado. Lendas a parte, deu tudo certo para o Central que bateu o Verdão Maravilha do atacante Nego Chico por quatro a zero, com quase sete mil pagantes no PV, e avançou de fase junto com o Santa Cruz.
Na fase seguinte o Central jogou uma das maiores partidas da sua história. Apesar de não ter ocorrido gols, o Guarani teve que colocar com quase cinco zagueiros para segurar a Patativa no Brinco de Ouro da Princesa, até Júlio César (titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1986) foi escalado como volante e com a função exclusiva de ficar o tempo todo marcando Paulinho.
O Guarani avançou de fase e conseguiu a vaga na Taça de Ouro por causa do saldo de gols, pois havia vencido o Maranhão por cinco a um em São Luís, enquanto o Central fez “apenas” três a zero contra o Bode Gregório em Caruaru. No segundo semestre o ídolo do Tremendão Nilson Hora, que pertencia na época ao Sport Recife, foi emprestado para o Central, contudo Juan Celly, maior treinador na história do Itabaiana e primeiro treinador remunerado do Central, jamais retornaria para treinar as duas equipes.
Nesse novo duelo por uma competição nacional, a Olímpica de Itabaiana está na ponta do grupo e dois pontos a frente do rival direto. O Central vai jogar com salários atrasados dos jogadores e precisando urgentemente da vitória para depender apenas de si na última rodada decisiva da Série D.
Este que vos digita está imensamente feliz por testemunhar mais um capítulo na belíssima história dessas resistências do futebol brasileiro… e a comparação com jogos de Copa do Mundo feita na abertura desse texto não foi mera hipérbole futebolística, já que a simples sobrevivência desses clubes é tão triunfante quanto o êxito máximo da bola.
* Este texto teve a colaboração de Matheus Lima; Advogado, pesquisador, conselheiro do Itabaiana e fundador do extraordinário Baú do Tremendão.
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Amistoso Beneficente
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Reprodução autorizada
Futsal Lusa – Atletas
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Fotografo: Cristiano Fukuyama / Acervo da Bola
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