Vasco da Gama Futebol Clube (SE)

*Colaborou Leandro Paulo Bernardo

“Leandro, vá organizar essas revistas”

Por inúmeras vezes ouvi minha mãe falar isso… Mal ela sabia que arrumar a minha coleção da Revista Placar era uma tarefa maravilhosa. Em uma “recente organização”, reli com saudosismo a última página da edição dos campeões de 1987. Naquela “ordem geográfica”, a revista era finalizada com o título “Vasco campeão”.

vasco_2

Revista Placar

Aposto que muita gente logo associou ao Vasco da Gama campeão carioca com o gol do Tita, mas esse cruzmaltino também era especial e nasceu inspirado no xará famoso. Fundado como Vasco da Gama Futebol Clube em 15 de agosto de 1931 na cidade de Aracaju e, a partir de 1946, passou a ser Vasco Esporte Clube.

Surgiu dos sonhos de comerciários e bancários na casa de Abdias Bezerra. O clube teve Eurípedes Machado de Oliveira, o popular “Boquinha”, como primeiro presidente e um dos pioneiros jogadores do time. A primeira sede foi na Praça Fausto Cardoso, atrás dos Correios, depois mudou para a Rua São Cristóvão.

Em 1966, o clube foi despejado por ordem judicial da sede. No ano seguinte, durante a presidência de Alceu Gonçalves de Oliveira, foi iniciada a construção da sede própria, localizada na Avenida Antônio Cabral no Bairro do Industrial em Aracaju. A obra seria inaugurada um ano mais tarde, durante a gestão de Wilson Queiroz. Por muito tempo ficaram famosos os bailes de carnaval na sede.

Com a primeira denominação, foi vice campeão em 1933 e conseguiu muito sucesso a partir da década de 1940, quando se sagrou campeão estadual de forma invicta em 1944 e vice-campeão em 1945, quando contava com o maior jogador sergipano da era amadora: Charuto.

Em 1948, foi campeão durante a presidência de João Álvares Pereira, o popular Cacetão, que foi jogador do clube na conquista de 1944. Na década de 1950, conseguiu apenas o título de 1953 e o centroavante Calango foi artilheiro do Campeonato de Aracaju em 1955. Entretanto, todos os Campeonatos Sergipanos da época ainda eram considerados amadores.

No início dos anos 1970 fez a sua contratação mais cara e também mais cômica: Paulo Borges “o Risadinha”. O jogador assinou um contrato de três meses e declarou na edição 239 da Revista Placar de 1974 que, se a água de Aracaju fosse boa, iria prorrogar o contrato. Três meses depois, foi dispensado e o clube resolveu apostar nas categorias de base.

vasco_1

Paulo Borges

Naquela década de setenta o Vasco teve bons jogadores revelados nas categorias de base ou vindos do interior de Sergipe e da Bahia. Tiveram destaque no clube os jogadores Nilson Brás (tio do atacante Marcelo Ramos), Cipó, Geraldo, Florisvaldo (artilheiro do campeonato sergipano de 1978 com 30 gols) e Valença (goleador e ídolo do Sergipe). Dessa boa safra ainda saiu o mais folclórico e carismático jogador dos anos oitenta: Jacozinho.

O Vasco já contava no seu plantel profissional com Jacomias, irmão mais velho de Jacozinho. Entretanto, foi o treinador dos juniores, Dequinha (antigo ídolo do Flamengo do Rio), que levou Jacozinho ao juvenil do clube.

Jacozinho se profissionalizou no Vasco (de Sergipe) em 1977, depois foi ídolo no CSA e passou por vários clubes como o Flamengo (do Piauí) e Corinthians (de Presidente Prudente).

Com o bom trabalho feito nas categorias de base, o time conseguiu chegar ao vice-campeonato em 1979, após 17 anos. Assim, o clube entrou com força máxima, dentro e fora do campo para a década seguinte, já com a presidência de José Carivaldo de Souza (que depois ficou 25 anos na presidência da Federação Sergipana de Futebol). Em 1984, o clube foi declarado como instituição de utilidade pública pela lei 967/84, da Câmara Municipal de Aracaju. Em 1985, brigou pelo título e teve pela segunda e última vez o artilheiro do campeonato: Zé Raimundo com 14 gols.

Em 1987, o Vasco finalmente conquistaria o primeiro título profissional. O jogo decisivo foi no dia 23 de agosto contra o Confiança (que era o atual campeão), em um quadrangular que ainda contava com o Estanciano e o Itabaiana.

Na rodada decisiva, Itabaiana e Estanciano em 1 a 1, resultado que favorecia o Vasco. Para o Confiança, só a vitória passava a interessar no Batistão, que teve um público de 3.472 pagantes. O Vasco abriu o placar aos 31 minutos, com Quinha. Jogadores e comissão técnica do proletário reclamaram de impedimento, porém, o gol foi validado.

No segundo tempo, o Vasco ampliou e se aproximou ainda mais do título com um gol de Zé Raimundo. O Confiança buscou a reação e chegou a diminuir com Audair. Antes do fim da partida, houve uma confusão generalizada. Quatro jogadores foram expulsos pelo árbitro Antônio Vieira de Góis, dois de cada lado. Os vascaínos conseguiram administrar a vantagem até o final e confirmaram o título. O time titular no jogo final foi:
Gilmar, Pimenta, Missinho, Almir Santos e Careca; Reginaldo, Zé Carlos e Quinha; Jorge, Geldo e Zé Raimundo.

O treinador do Vasco naquele campeonato foi Cacau, um antigo ídolo do Confiança. Ele comandou o time em 35 jogos – venceu 12, empatou 14 e perdeu 9 partidas. O time marcou 33 gols e sofreu a mesma quantidade. O Vasco seria o representante de Sergipe no módulo branco da Copa União, porém, a federação preferiu não participar da competição – que não foi reconhecida pela CBF.

Por problemas financeiros, o clube não disputou o campeonato estadual de 1990 – que contou com nove times – e foi rebaixado. Conquistou o último titulo em 1992, quando foi campeão estadual da segunda divisão. O treinador era Rubens dos Santos e havia ainda como remanescentes da equipe de 1987 o lateral Pimenta e o volante Zé Carlos.

Em um campeonato “relâmpago” (de 27 de junho a 30 de agosto de 1992), seis equipes jogaram em turno e returno, com os três melhores classificados conseguindo o acesso para a 1ª divisão em 1993. O Vasco se sagrou campeão após vencer o Olímpico de Itabaianinha por 2 a 1, com os dois gols vascaínos marcados por Zé Carlos e Giuliano, Wilson descontou para o Olímpico.

O Vasco entrou no Batistão com: Gato; Pimenta, Marcelo, Sergio e Silvano; Fábio, Zé Carlos e Paulo Sérgio; Catu, Giuliano e Biluca. O público oficial registrado foi de 37 pagantes, que como uma ironia do destino foi realizado no dia 23 de agosto (mesmo dia da conquista de 1987).

vasco_3

Vasco da Gamea Futebol Clube – Campeão Sergipano 1987

O Vasco foi vice em 1993 com a mesma base e o técnico da conquista da segunda divisão. Chegou ao terceiro lugar em 1996 e conquistou mais um vice-campeonato em 1998. A última participação na primeira divisão ocorreu em 1999. Atualmente, o clube está licenciado das competições oficiais. A sede continua firme, sem grandes sucessos nos carnavais, mas com muito pagode e brega.

* Leandro Paulo Bernardo – Cirurgião-Dentista, apaixonado por futebol, literatura e música desde os quatro anos, e com o coração dividido entre o Santa Cruz e a Portuguesa

Imagens: Revista Placar